... um relato do CFO sobre captações de Venture Debt
Resumo
A Goomer buscou Venture Debt para reduzir custo de capital e acessar crédito estruturado não disponível em bancos tradicionais
A captação de Venture Debt foi crucial, permitindo à Goomer resistir a adversidades como aquelas trazidas pela pandemia, e lançar produtos complementares
Além do financiamento, a captação proporcionou oportunidades de melhoria em termos de controle financeiro e governança
Sugestões para o processo de captação incluem construir um plano de negócios concreto e entender a dinâmica da operação desde o início, especialmente em relação aos covenants, garantias e fluxo de pagamento
Sobre a Goomer

A Goomer é uma plataforma B2B omnichannel projetada para digitalizar o atendimento de bares e restaurantes. Possui três principais produtos: plataforma de delivery, que ajuda os clientes a criarem seus canais digitais de venda; QR Code dentro das lojas físicas; e tablets e totens de autoatendimento (também nas lojas físicas), usados para automatizar os pedidos. Além deles, a Goomer também reúne dados sobre os clientes do estabelecimentos, ajudando-os a conhecer melhor seus consumidores e a montar ações direcionadas.
Fundada por Felipe Lo Saro, Daniel Wassano e Rafael Laganaro em 2014, e apoiada por investidores como Domo Invest e Bridge One, a Goomer realizou recentemente seu primeiro movimento inorgânico, fundindo-se com a Abrahão, uma das principais empresas do setor. Hoje, as duas empresas combinadas contam com mais 400 mil restaurantes cadastrados, e mais de 25 mil clientes pagantes.
Entrevista com João, CFO da Goomer

O que fez a Goomer buscar Venture Debt?
“Nossa primeira captação de Venture Debt ocorreu em2020. Quando decidimos captar este tipo de operação, nossa principal intenção foi reduzir nosso custo de capital na Goomer. Fundamentalmente, entendemos que o modelo de dívida bem estruturado, é mais econômico do que a captação baseada em equity dos fundadores/investidores atuais.“
“Em nossa visão a operação de Venture Debt reúne as características ideias para empresas de tecnologia que estão em pleno crescimento. Escolhemos esta opção pois tivemos acesso a crédito estruturado que dificilmente seria aprovado em bancos tradicionais, dadas as condições específicas de uma empresa de tecnologia que tem ativos e comportamento de fluxo de caixa diferentes das tradicionais. A terminologia “Venture” está muito associada ao risco inerente ao nosso tipo de negócio e por isso é preciso que o operador que oferece o crédito tenha conhecimento dos fundamentos que demonstram a eficiência de uma empresa como a nossa.”
Quais outras opções foram consideradas?
“Quando levantamos capital, consideramos dívidas “tradicionais” com os bancos (e efetivamente falamos com diversos bancos), oportunidades de captação de recursos com novos investidores de fundos de Venture Capital e após muitos estudos conhecemos a opção do Venture Debt.”
Como o Venture Debt foi importante?
“No nosso caso a importância do Venture Debt foi um mix de sorte e “timing”. Nós concluímos a primeira captação uma semana antes do início da pandemia em 2020. Para o nosso mercado de bares e restaurantes, a pandemia foi devastadora pois fechou centenas de estabelecimentos de forma abrupta. Como havíamos acabado de receber o recurso da captação, conseguimos manter o nosso time e lançar um produto complementar ao nosso core business, que gerou um efeito de crescimento orgânico muito acelerado e nos permitiu caminhar para uma rodada Series A no ano de 2021.“
“Além do recurso financeiro, acredito que a captação de crédito pode gerar efeitos muito positivos em termos de controle e governança. No nosso caso já fizemos duas rodadas de Venture Debt com a Namari, e a cada diligência e estruturação de uma nova operação, enxergo o processo como uma oportunidade de encontrar e discutir melhorias de gestão e controle financeiro em nossa empresa. Finalmente, acredito que a Namari tem uma característica diferente da maioria dos players do mercado, que é conhecer bem o dia a dia de um empreendedor, uma vez que eles já estiveram nesta posição em outras empresas tech também. Faz muita diferença ter alguém do outro lado da mesa, que converse na mesma linguagem e entenda suas particularidades.”
Após o aporte, o que mudou no dia a dia da empresa?
“Na prática não vejo que houve grandes mudanças em nossa rotina. Após o período mais intenso que ocorre durante a captação, o que acontece de “novo” é controlar a dívida e periodicamente apresentar os resultados da companhia para o investidor de Venture Debt.”
O que teria feito de diferente no processo de captação?
“Minha principal dica é construir um plano de negócios que seja concreto e o time de empreendedores tenha bastante confiança que conseguirá executar. Como empreendedores, estamos acostumados a captar recurso com Venture Capital que passa a ser seu sócio e portanto gera um compromisso de longo prazo. No modelo de Venture Debt é preciso entender que você tem um compromisso de curto/médio prazo para quitar a dívida e portanto não pode tomar decisões das quais não tenha certeza de que irá conseguir cumprir.”
“Além disso, sugiro que os empreendedores busquem entender a dinâmica da operação desde o início. Na prática isso significa entender: A diferença entre uma captação de dívida e uma captação via equity, o que são covenants da operação e quais melhor se adequam a sua realidade, quais as garantias serão dadas para a operação, formato de comissionamento da operação (kicker), compreender o fluxo de pagamento de juros e parcela principal, considerando as possíveis carências do pagamento.”
“Acredito que o principal aprendizado é buscar o equilíbrio nos cenários financeiros, entre a visão do crescimento potencial futuro da empresa versus sua série histórica de crescimento. Encontrar este equilíbrio para tomar a decisão do valor esperado da captação e seu respectivo pagamento, requer um nível apurado de controle de seus indicadores financeiros atuais e de como o mercado pode se comportar nos próximos anos.“
“Não acho que mudaria o que fizemos, mas baseado no histórico que vivemos, hoje temos clareza de que o mercado pode ser muito volátil (haja vista o que vivemos na pandemia e no “inverno” dos recursos de VC) e portanto é importante questionar ainda mais as premissas das projeções financeiras antes de assumir uma operação de Debt. De maneira geral, conseguimos superar o período crítico da pandemia e recentemente realizamos o nosso primeiro M&A sem a necessidade de recursos externos, portanto concluímos que utilizar esta alavanca de crédito foi muito importante para nós.”
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