top of page

Afinal, o que é Venture Debt?

...e qual a sua diferença para o Venture Capital
 

Venture Debt é uma opção de financiamento para empresas inovadoras e de alto crescimento, que assume a forma de um empréstimo (ou dívida). Seu principal benefício é implicar pouca ou nenhuma diluição acionária aos sócios, sejam empreendedores ou investidores. Ao contrário de credores tradicionais, como bancos, investidores de Venture Debt entendem profundamente este tipo de companhia, e por isso conseguem prover capital relevante, com termos adequados para empresas que não tenham longo histórico de operação, que ainda não sejam lucrativas e/ou não possuam garantias tradicionais. São considerados aspectos que vão além dos demonstrativos financeiros das empresas.


O Venture Debt surgiu nos EUA como alternativa complementar ao Venture Capital, e começou a decolar a partir da década de 1980, quando o Silicon Valley Bank e outras instituições começaram a estruturar as primeiras operações de dívida com foco em startups. Atualmente, representa aproximadamente 17% do total captado com Venture Capital nos EUA, onde foram investidos mais de US$110 bilhões em Venture Debt entre 2021 e 2023.¹




Seus usos práticos são diversos: O Venture Debt pode tanto complementar rodadas de equity (Venture Capital), quanto ser usado de forma independente, dando fôlego de caixa e permitindo que empresas cresçam em busca de seus próximos objetivos. Além disso, é bastante utilizado para financiar investimentos em CapEX, M&As e outros tipos de alocações intensivas em capital e com retorno relativamente previsível.  



Por que não considerar dívida para financiar investimentos com alta previsibilidade de retornos?

 

A seguir, temos quatro exemplos simples (mas não exclusivos) de situações em que o Venture Debt pode trazer valor para empreendedores e investidores:


Exemplo 1: Empresa A está crescendo rapidamente. Sua receita mensal foi de R$ 500.000 para R$ 1.000.000 nos últimos 6 meses, e projeta-se que passe para R$ 2.000.000 nos próximos 12 meses. No entanto, ainda não é lucrativa, e só possui mais 6 meses de caixa (“runway”). Neste cenário, a Empresa A pode (i) captar equity, fazendo com que o investidor precifique a empresa com base nos números atuais, (ii) reduzir seu consumo de caixa, comprometendo seu crescimento, ou (iii) captar Venture Debt, permitindo a continuidade do crescimento, e ganhando robustez para negociar uma futura captação de equity com maior receita e sem pressão de caixa, permitindo uma negociação com maior valuation.



Exemplo 2: A Empresa B está enfrentando uma crescente demanda por seus produtos, e projeta um crescimento de 50% para os próximos 12 meses. No entanto, um desafio enfrentado é o prazo de recebimento dos pagamentos de seus clientes, de 90 dias. Isso tem impacto direto em seu capital de giro, uma vez que a empresa precisa financiar suas operações durante esse período. Com pouco caixa disponível, a Empresa B precisa tomar uma decisão. Ela pode (i) captar equity unicamente para este fim, diluindo permanentemente a participação dos sócios e sanando de forma provisória a demanda de caixa, (ii) reduzir o ritmo de crescimento, e assim a necessidade de capital de giro ou (iii) utilizar catações de Venture Debt para otimizar o fluxo de caixa, suprindo a demanda por liquidez, e repagando o aporte com o auxílio dos recebimentos futuros de clientes.


Exemplo 3: A Empresa C planeja adquirir uma empresa do mesmo setor, tendo de pagar pela compra dos sócios atuais nos próximos 6 meses. O financiamento dessa compra pode ser feito através de (i) captação de equity, diluindo a participação dos sócios compradores ou (ii) Venture Debt, que supre a necessidade de recursos de curto prazo, e pode ser repago através da geração de caixa da própria empresa alvo, com o benefício de não gerar diluição.


Exemplo 4: A empresa D está planejando sua próxima rodada de captação de R$ 30 milhões para financiar investimentos em P&D (R$ 20 milhões) e aquisição de clientes (R$10 milhões). O valuation pre-money é de R$ 90 milhões. Estudando as possíveis formas de se compor a rodada de captação, empreendedores e investidores atuais se deparam com as seguintes opções: (i) captar os R$ 30 milhões em equity, gerando diluição de 33%, porém sem necessidade de repagamento do aporte ou (ii) captar R$ 20 milhões em equity voltados para investimentos em P&D (de maior risco) e R$ 10 milhões para investimentos em aquisição de clientes (de menor risco), diminuindo a diluição acionária da rodada.


Qual a diferença entre Venture Debt e Venture Capital?

 

Empreendedores em busca de capital têm essencialmente duas opções: equity ou dívida. O equity é geralmente obtido de Venture Capitalists (VCs), que injetam capital em troca de participação acionária, tornando-se sócios e participantes ativos na gestão da empresa.


O Venture Debt (VD), por sua vez, é um crédito estruturado e, portanto, tende a não implicar venda de participação acionária ou interferência direta na gestão da empresa investida. Ao contrário do Venture Capital, envolve o repagamento do aporte ao longo do tempo.


Com produtos diferentes em mãos, Venture Capitalists e investidores de Venture Debt possuem formas distintas de abordar um investimento:


Custo e Termos


Venture Capital: O custo de uma captação de equity (ex. Venture Capital) é difícil de ser previsto no momento da captação, já que depende do valor de venda da empresa em eventos de saída, cujos termos são naturalmente difíceis de antecipar. Assumindo que há evento de liquidez, o custo do equity aumenta de forma proporcional ao valuation, como ilustrado neste simples exemplo: A Empresa A faz uma captação de R$ 2 milhões em equity, vendendo 25% da sociedade a um VC, com valuation post-money de R$ 10 milhões. A empresa é comprada 36 meses depois, sem ter captado rodadas adicionais, por um valuation de R$ 100 milhões. Proprietário de 25% da sociedade, o VC recebe R$ 25 milhões. Subtraindo o investimento inicial de R$ 2 milhões, o lucro do VC é de R$ 23 milhões, representando um retorno (e custo para o empreendedor) de 132% a.a.

 

Venture Debt: Seu custo é mais previsível, já que, diferentemente do VC, não cresce de forma totalmente proporcional ao valuation. O custo do Venture Debt dependerá essencialmente da taxa de juros e kicker (ou taxa de sucesso) acordados. Por outro lado, o Venture Debt envolve o repagamento do aporte, que deve ocorrer independentemente da performance da empresa, antes de distribuições para sócios e investidores.

 

Quais são minhas expectativas de crescimento e de valuation futuro? Qual é o custo implícito da captação de equity que está sendo realizada?

 

Controle e Tomada de Decisões:

 

Venture Capital: Investidores de equity tornam-se acionistas das empresas. Isso tende a melhorar a governança, ao trazer investidores experientes a bordo, e significa que as tomadas de decisão serão compartilhadas. Idealmente, as expectativas dos investidores devem estar alinhadas com as dos empreendedores.

 

Venture Debt: Seus investidores tendem a não se tornar acionistas das empresas, e geralmente não possuem assento em conselho. Contudo, certa governança é imposta através de covenants (que estabelecem limites, como sobre a performance da startup, endividamento máximo, entre outros). A demanda de reporting se mantém, porém investidores de VD tendem a participar menos ativamente nos processos de tomada de decisão estratégicas.  

 

Ambas as opções oferecem vantagens e desvantagens e serão mais adequadas para momentos e desafios diferentes.  A decisão de escolher o equity ou a dívida dependerá dos objetivos da empresa e de seu contexto.


Apesar disso, o Venture Capital e Venture Debt não são mutuamente excludentes: O Venture Debt pode complementar o Venture Capital ao longo da trajetória de captação de uma empresa, evitando diluição acionária excessiva para os fundadores e para os VCs!

 

Referências:

     ¹PitchBook Analyst Note: Venture Debt as the Market Turns

 
 

1 Comment


cardosoantoniopedro
Apr 24, 2024

Artigo legal. Parabéns!

Like
logo Namari 5.png
Imagem do WhatsApp de 2024-11-27 à(s) 16.58.15_9e4a257f.jpg

A Namari Capital Gestão de Recursos Ltda. se encontra em fase de credenciamento perante a Comissão de Valores Mobiliários e adesão ao Código ANBIMA de Administração e Gestão de Recursos de Terceiros e ao Código ANBIMA de Certificação

Copyright © 2024. Todos os direitos reservados Namari Capital

bottom of page